segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A compra do nada

     Quando pousei neste planeta — o banheiro da nave estava com problemas e eu precisava me aliviar — acabei por notar, nesta curtíssima passagem, como as criaturas aqui são estranhas e atrasadas. Quando elas pagam por alguma coisa, elas efetivamente recebem algo em troca. Mas que burrice. Lembrando dos mega-livros de ultra-história que nos são ensinados nos primeiros zap-anos de vida, confesso que até já usamos este método. Mas isso foi há zilhões de anos.
     Sendo muito bondoso, posso até dizer que essas criaturas estão no iniciozinho do caminho certo. Pude perceber essa leve tendência enquanto assistia à TV a espera do meu almoço — depois de usar o banheiro e antes de retornar à nave para partir. Trocando os canais, achei um programa interessante que falava do espaço. Assistindo durante 1 hora, vi efetivamente 30 minutos de programa dissolvidos em outros 30 minutos de anúncios de programação futura combinados com comerciais diversos. Estes comerciais vendiam coisas, era o método antigo. Mas os anúncios de programação futura, estes sim são o futuro!
     Deixe-me explicar nossa teoria. Digamos que metade do programa foi anúncio de programação futura. Na data da programação futura, ocorrerá a mesma coisa. Metade dessa programação futura será usada para anunciar outras programações futuras. Até aqui essas criaturas estão fazendo bem, mas nenhuma novidade. O que lhes falta é o que já fizemos há muito tempo: trocamos metade por inteiro, e ninguém sentiu. Nossos programas são sempre anúncios de programações futuras. E quando chega a data dessas programações, anunciamos outras.
     Isso me lembra o primeiro modelo dessa teoria que vi num nano-capítulo de um mega-livro de economunicação. Imagine três programas de TV: A, B e C. O programa A são anúncios do programa B. O programa B são anúncios do C, e o programa C do A. Fecha-se o ciclo e enuncia-se assim o pequeno grande primeiro último teorema da economunicação: transforme seus produtos em nada e alcance a essência do lucro. #

3 comentários:

  1. Há mais um passo rumo a compra do nada que não foi notado pelo viajante, por não morar aqui, porque perceberia a mesma idéia nos impostos no Brasil. Se paga muito e não se leva nada por isso!

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